Arquitetura e Segurança em Casas de Campo e Praia
A preocupação com segurança deve estar presente desde a escolha do terreno até a entrega da chave, o que manterá os custos dentro do razoável.
Um dos principais erros de proprietários de casa de campo ou de praia é negligenciar a questão da segurança. Pensar que naquele lugarzinho tão isolado ninguém vai querer assaltar sua casa é um enorme engano... pode até ser que na região não existam assaltantes perigosos, mas sempre haverá aqueles que vão “fazer supermercado” nas “casas dos ricos” da vizinhança, ou seja, a pessoa precisa de uma cama, televisor ou até de um botijão de gás e, ao invés de ir na loja, escolhe uma casa próxima, arromba, retira o que precisa e se vai, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Às vezes, são roubos de pequeno valor mas é o suficiente para acabar com a tão buscada tranqüilidade.
Hoje as drogas estão por trás da maioria dos crimes violentos, e a droga está em todas as camadas da sociedade e em todas as cidades, grandes ou pequenas. Uma pessoa drogada torna-se violenta, sem consciência do que faz, é capaz de qualquer coisa para obter o dinheiro e manter seu vício. São estes alucinados que praticam os crimes mais hediondos nas casas de veraneio, para eles é preciso tomar cuidados especiais, como sistemas de alarme e cômodos invioláveis, conforme veremos adiante.
Medidas práticas
Muita gente pensa que o seu refúgio nas montanhas, tão “simplesinho”, nunca despertará a cobiça de alguém mas isto é mentira. Como dissemos acima, sempre existe gente necessitada e achando que pode tirar do outro aquilo que lhe falta.
Em termos práticos, as pessoas ainda teimam em construir imóveis sem qualquer tipo de segurança. Claro que não estamos propondo que se passe a construir fortalezas, mas existe um mínimo de cuidado que deve ser tomado.
Por exemplo, o imóvel deve prever caixilhos resistentes e se possível com boas grades externas e sistema de alarme e vigilância. No forro,nada de telha vã, deve ser de preferência de concreto e sem alçapão, é muito comum os bandidos entrarem pelo telhado se encontrarem dificuldade nas portas e janelas.
Outro detalhe: deixar o mínimo de equipamento nas áreas externas. Botijões de gás devem ser guardados em local bem fechado, o mesmo se diz de implementos e máquinas agrícolas, como tratores e cortadores de grama, e também de equipamentos esportivos. Estes devem ficar em local com o mesmo nível de segurança da casa, é comum os bandidos “depenarem” um sítio ou fazenda de todos os equipamentos.
Até os fios de energia elétrica são roubados, por isto nada de cabos aéreos indo da entrada de luz até a casa. É preciso embutir a tubulação, mesmo que saia mais caro é melhor do que chegar em casa na sexta-feira à noite e ter que passar o final de semana no escuro e sem telefone porque roubaram os fios...
Em que momento devemos começar a pensar em segurança?
É muito importante que a segurança seja pensada desde o início do projeto e não depois da casa pronta. Na verdade, deve-se pensar na segurança a partir da escolha e compra do terreno, verificando se a região é perigosa, se há muita incidência de roubos e como é o atendimento policial e de firmas de segurança na região. Alguns profissionais, em especial, devem ser consultados e participar da elaboração dos planos, entre estes o arquiteto, a polícia e o responsável pela firma de segurança do local.
A idéia é determinar os riscos e cuidados a serem tomados e, em função destes, se define as metragens, os equipamentos e instalações necessárias para abrigar a estrutura de segurança pensando em itens como, por exemplo, paredes, janelas e portas com blindagem balística e resistentes ao fogo além de sanitário, bebedouro e copa para os empregados e contratados, sem falar de toda a parafernália de eletrônica e informática.
Ponto importante é quanto ao pessoal que trabalhará na obra. Estes devem ser checados com cuidado, verificar se nas obras em que trabalharam houve assaltos. Isto porque um operário que trabalhou em uma casa conhece todos os detalhes desta e pode passar estas informações para os assaltantes. Durante a obra, tomar o maior cuidado quanto às chaves, deixar com o pessoal de obra apenas o necessário e, depois que o pessoal se for, trocar todas estas fechaduras. Uma boa providência alternativa é substituir as fechaduras fornecidas com as portas e janelas durante a obra por modelos baratinhos e só colocar os definitivos quando a construção estiver pronta.
Os custos para se fazer uma casa de veraneio segura são altos?
O conceito de caro ou barato é relativo. Se estivermos falando de “caro” no sentido de aumentar o custo da construção, a resposta é “sim”. Em que porcentagem? Difícil precisar pois varia de caso para caso, mas podemos afirmar que é bem menos do que se pode imaginar, desde que se pense na segurança a patir da compra do terreno e em cada uma das etapas seguintes. Roubos, assaltos e sequestros SÃO parte da nossa realidade, infelizmente.
Em termos genéricos, diria que uma casa com nível de segurança razoável tem o custo aumentado em menos de 5%, menos do que ganha, por exemplo, um corretor de imóveis, só que a segurança será desfrutada durante toda a vida útil da casa, enquanto que o corretor vira as costas e se vai...
Agora, se for para construir uma fortaleza inexpugnável, o custo vai para as alturas, o céu é o limite mas, se for assim, para que ter uma casa de campo?
Principais providências de projeto
O trabalho do arquiteto deve estar presente desde os primeiros momentos da vida de uma casa, na verdade, desde o “pré-natal” que seria a compra do terreno. Por exemplo, em condomínios fechados deve-se evitar lotes próximos aos muros de divisa ou que fiquem em ruas muito escondidas, os mais próximos às guaritas ou onde passa a ronda são mais seguros. Lotes de esquina costumam ser mais vulneráveis, por ter duas divisas de fácil acesso. Terrenos no topo de montanhas tendem a ser menos vulneráveis do que aqueles que ficam nas depressões -– aliás, isto os militares sabem há muitos milênios...
Definido o lote, começa a definição do projeto. Deve ser definido com precisão o que se espera da casa, quantas e que tipo de pessoas vai frequentá-la, como vão chegar (carro, ônibus, trem, a pé) e como vai ser a recepção destas pessoas.
Deve-se definir também o chamado partido arquitetônico, onde se levantarão questões como a técnica construtiva (tijolos, blocos, drywall, pré-fabricados), clima (quente, seco, frio, neve), as condições físicas e topográficas do sítio, bem como seu entorno, sem esquecer das condições financeiras do empreendedor e da legislação regulamentadora.
Este trabalho do arquiteto vai se refletir então num desenho da obra a ser executada, e neste projeto estarão consubstanciados diversas coisas como:
• As janelas que estarão em altura acessível precisam ter sua segurança reforçada, usando vidros e caixilharia resistentes e, se necessário, com alarmes e segurança eletrônica.
• Os locais de estacionamento de veículos dos moradores e dos visitantes devem ser planejados possibilitando que sejam fechados com cadeados ou correntes.
• É bom prever também como será o estacionamento dos fornecedores e dos prestadores de serviço fixos e temporários, determinando onde será a área para carga e descarga de carros e caminhões. Se possível, os fornecedores de serviço e de materiais devem usar uma entrada especial, onde não se consiga divisar como é a casa, quem está lá ou conseguir qualquer outro tipo de informação que possa orientar um futuro assalto.
• Não usar materiais frágeis nas paredes e no teto, que facilitem o arrombamento.
• Se possível, prever a existência de uma área de segurança máxima. Também chamado de “quarto do pânico” é um cômodo, que pode ser um quarto ou sala, que seja praticamente inexpugnável. Este cômodo deve ser muito difícil de abrir por fora, com portas e janelas à prova de bala, com ventilação permanente com o exterior de maneira que impeça sua interrupção. Este cômodo deve ter comunicação à bateria e que que permita à pessoa que estiver dentro manter sua segurança pessoal enquanto telefona ou acessa a internet para pedir auxílio. Este mesmo cômodo pode ser usado para guardar os objetos mais roubados nas casas isoladas, entre estes os eletrodomésticos como televisão, som e microondas.
Equipamentos de segurança
Os crimes mais comuns nas casas de campo são o arrombamento e a invasão, esta última geralmente seguida de seqüestro, cárcere privado e extorsão mediante violência. É preciso, pois, prever equipamentos de segurança para ambas as situações.
O arrombamento acontece quando a casa está vazia, assim é preciso prever, na área externa, muros e portões seguros, sem esquecer dos sistemas de vigilância e alarme. Na casa propriamente dita a idéia é dificultar o acesso e, se o arrombamento for efetuado, ter sistemas que avisem a segurança ou, na pior das hipóteses, os vizinhos. Forros e caixilharia devem ser seguros, aconselha-se dividir a casa em secções através de portões de ferro tão seguros quanto os externos, para que se houver uma invasão os bandidos não consigam se locomover a vontade. É conveniente ter alarmes, de mais de um tipo, e câmaras de vigilância automatizadas e alimentadas à bateria, para avisar que o imóvel foi invadido.
No caso de invasão, ou seja, dos bandidos entrarem enquanto a casa está ocupada, é preciso dois tipos de cuidado: preventivo e corretivo.
O preventivo é similar ao que dissemos acima, ou seja, o imóvel de ter muros e portões seguros, com alarme e vigilância. A parte externa não deve ter pontos cegos ou que formem esconderijos.
Se mesmo assim os bandidos entrarem, passamos às medidas corretivas. É preciso ter alarmes escondidos e silenciosos, assim como aparelhos de celular escondidos igualmente em pontos estratégicos como banheiro e nos dormitórios, pois são nestas áreas que os criminosos costumam prender suas vítimas. É conveniente ter em um ou mais pontos estratégicos botões de alarme ligados à alguma firma de segurança ou, na pior das hipóteses, a um ou mais vizinhos, que alertados poderão chamar a polícia. Pode ser combinado um alarme entre os vizinhos, se alguém tocar a campainha os outros saberão que está havendo algum problema e fazer o que for preciso, é segurança para todos.
Paisagismo e a segurança
O paisagismo também influi na segurança, pois não deve fornecer áreas onde o marginal possa se esconder para vigiar a casa sem ser percebido. Para tanto, o paisagista deve determinar o tipo de vegetação, sua altura e localização evitando que as plantas façam sombra ou permitam a alguém se esconder nelas.
As plantas não devem interferir com o circuito fechado de televisão -- mesmo que não haja um, deve ser prevista sua instalação). A iluminação externa também deve ser analisada em relação ao paisagismo e à segurança. Uma área ao redor da casa -- algo como 50 metros de raio -- deve ser disposta de forma que permita ser inspecionada visualmente a partir de dentro da casa.
Terrenos muito grandes devem ser inspecionados com câmeras de vigilância. Parece coisa dos filmes de James Bond, mas é a infeliz verdade para este Brasil atual. Hoje existem câmeras de segurança que detectam movimentos suspeitos e avisam o proprietário ou a segurança, é uma segurança adicional e uma grande tranquilidade, evita que a família seja pega de surpresa.
Outra coisa que não é do paisagismo em si, mas está ligado à ele, é quanto à manutenção. Uma casa de campo deve utilizar espécies de fácil manutenção, quanto menos melhor, pois menos gente precisará ser contratada. Estes serviços eventuais são uma brecha na segurança, aquele senhor tão gentil que veio podar as árvores pode atuar como um espião que repassará para outros informações privilegiadas sobre o imóvel e os hábitos dos proprietários.
Mas, então, a segurança impede que se usufrua da beleza, conforto e liberdade visual?
Num imóvel bem planejado nada se perde em termos do que se espera de uma casa de veraneio. Mas é óbvio que aqueles tempos antigos, onde se podia ir para uma cidade do interior, para o carro com as portas abertas na praça principal com chave definitivamente não existe mais.
Hoje a segurança está na mente de todos, no caso de uma casa de veraneio, a segurança deve ser preocupação desde a hora em que a pessoa sai de casa, pega a estrada e chega à sua casa de campo, até o momento em que retorna ao seu lar, são e salvo. Infelizmente, este é o quadro.
Assim, é um grande engano uma pessoa pensar que vai para o interior descansar em sua casa de campo sem se preocupar com a segurança. É preciso, sim, tomar as medidas necessárias, e a casa deve fornecer a infra-estrutura para estas medidas.
A boa notícia é que, se a casa tiver uma infraestrutura básica de segurança e o proprietário seguir uma rotina segura, os riscos serão minimizados e ele poderá usufruir normalmente da beleza do campo, com todo conforto, num lugar bonito e agradável, em contato com a natureza.
O principal é ter um arquiteto trabalhando no caso desde a compra do terreno até a entrega das chaves. O Arquiteto é o profissional encarregado de dar as soluções estéticas para os problemas práticos. O que costuma ficar feio nas casas de campo, em relação à segurança, são as soluções adotadas depois do imóvel pronto. Por exemplo, uma grade colocada sobre um caixilho de madeira é muito mais feio do que um caixilho de ferro, já desenhado para fornecer segurança com beleza, ou então uma porta de ferro feita as pressas colocada na porta da cozinha pois foi por lá que os bandidos entraram no último assalto.
Quanto às áreas externas, a questão da segurança não se limite às paredes da casa, pelo contrário, deve atingir todo o terreno em volta e também o bairro e/ou condomínio onde o imóvel está localizado. As defesas e controles devem ser colocados nos limites do terreno, controlando o acesso, é algo como pensar no terreno como um todo como se ele fosse a casa de campo, e não apenas a área coberta.
Isto custa mais caro? Evidentemente que sim, mas é o preço que pagamos pela insegurança pública. Mas a enorme demanda trouxe o preço dos equipamentos eletrônicos para baixo, hoje é muito barato (em relação ao preço do imóvel) um sistema com câmaras e monitoramento automático, e se o projeto arquitetônico previu muros e portões suficientemente seguros este conjunto com certeza vai dificultar a ação dos bandidos que provavelmente vão procurar algum lugar mais aberto e fácil para agir.
O lado ruim desta parafernália é que pode acontecer justamente o contrário, ou seja, os bandidos verão todo aquele cuidado e pensarão que a família deve ser rica, vamos planejar melhor este assalto e fazê-lo como se deve...
Arquitetos, coragem ao enfrentar o assunto segurança!
Os arquitetos e paisagistas fazem parte da sociedade como um todo, e todos nós estamos acompanhando pelos meios de comunicação a escalada crescente da violência, é difícil algum brasileiro que não conheça alguém que tenha sido assaltado ou vítima de violência, seja nos grandes centros, seja naquela bucólica cidadezinha no meio das montanhas. A crise de segurança no Brasil é, antes de tudo, moral, grande parte da população na miséria e, pior, sem perspectiva de vida, nada a perder, sem medo algum de ser preso ou processado.
Assim, claro que os arquitetos, paisagistas e construtores estão, sim, preocupados com a segurança. O que varia é o nível de instrumentação que cada um tem para cuidar do caso, pois a tecnologia evolui a cada dia e é preciso manter-se atualizado com o andamento das coisas.
O arquiteto pode e deve oferecer ao cliente muitas opções entre segurança, beleza, conforto e custos mas, no final, quem decide as prioridades e desejos é o cliente. E muitas vezes o assunto segurança em casa de campo, tira o encanto, a paz e o sonho e por isso o cliente não tem vontade de ouvir. Quem está no ramo da arquitetura sabe como é difícil conquistar e manter a clientela, por isto alguns profissionais evitam discutir muito o assunto segurança com seus clientes, temendo que uma conversa tão agradável quanto a construção de uma casa para lazer descambe para uma discussão sobre os últimos assaltos e a adoção de medidas de segurança. Mas é preciso que se discuta estes temas, sim, por mais dolorosos que possam ser para todos, afinal, é uma questão do Brasil atual, e não deste ou daquele profissional.
(fonte www.forumdaconstrucao.com.br por Arq. Iberê M. Campos)